terça-feira, 1 de abril de 2014

A culpa é da vítima

Por Jeison Giovani Heiler

Nesta última semana o assunto em todas as cavernas, rodas de conversa ao redor da fogueira, e em sessões de canibalismo era a divulgação da pesquisa do IPEA – Instituto de pesquisa econômica aplicada, que revelou o que pensa o brasileiro quando o assunto é a violência contra as mulheres, expresso na forma do estupro. Nada menos do que a esmagadora maioria, 65%, disse que a culpa é das mulheres, que usam roupas provocantes.
violencia
Uma pesquisa de um instituto sério como o IPEA, não pode ser desacreditada. Contudo, penso que faltou na análise imposta aos entrevistados, a consideração de outros possíveis “culpados” além, da própria vítima. A mulher, de acordo com a pesquisa, está suportando o estupro, e além disso, a culpa pelo crime. Como se ela fosse uma espécie de comparsa do estuprador.
Para dividir um pouco essa culpa, na verdade, o ideal seria que o entrevistado considerasse que a “culpa” mesmo pode ser atribuída aos seguintes atores:
a) Indústria têxtil e do vestuário – por ter lançado grifes de roupas “estupre-me-wear” visando unicamente o lucro sem atentar para o risco destas grifes de vestimenta.
b) Das Academias – por estimularem as mulheres a malharem até o ponto em que se tornam irresistíveis. A malhação em academia deveria visar somente a saúde, jamais a estética
c) Das nutricionistas – por indicarem dietas que transformam as mulheres em verdadeiras peças de filé mignon ambulantes, e que atuando com seus comparsas donos de acadêmica e médicos não permitirem que as mulheres engordem, deixando de ser atrativas para uma legião inteira de tarados de plantão.
d) Dos médicos – Por fazerem cirurgias plásticas e implantes de próteses artificiais que não permitem que as mulheres envelheçam, mantendo-as por um período maior na vitrine do consumo sexual, o que aumenta a demanda de tarados, estupradores e congêneres.
e) Da igreja – por ter cessado com as sessões públicas e privadas de tortura e fogueiras acessas com os corpos de pecadoras impuras que utilizam-se deste tipo de roupa para insinuar-se para o demônio enfeitiçando os indivíduos do sexo masculino, seres perfeitos por natureza.
f) Do governo por não obrigar a indústria a inserir advertências nas roupas, alimentos dietéticos, consultórios de cirurgia plástica, ou de nutricionistas, como aquelas que aparecem nos maços de cigarro ou em anúncios publicitários de bebidas alcoólicas. Nesse caso a grife de roupas provocantes, as acadêmias, etc deveriam obrigatoriamente dar o seguinte aviso “Cuidado, ao consumir este produto você está afetando a libido incontrolável de tarados, estupradores, voyeurs, cães no cio, lobos, orangotangos e todas as demais espécimes de indivíduos macho-alfa” ou um aviso mais direto: “Advertência: Risco de estupro”.
O sarcasmo não é o meu forte. Nem a ironia. Só que é.

*Jeison Giovani Heiler (Doutorando em Ciência Política pela UNICAMP, Mestrado em Sociologia Política pela UFSC, Bacharel em Direito, Especialista em Direito Previdenciário. Professor Universitário no Centro Universitário Católica de Santa Catarina, e na Faculdade Uniasselvi/Fameg. Membro Grupo de pesquisa em Política Brasileira UNICAMP – POLBRAS)

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